Chegámos àquela altura do ano em que todos fazemos uma retrospectiva daquilo que foi o ano que está a poucas horas de acabar. E, por mais estranho e mágico que parece, é nesta altura que percebemos que não foi assim tão mau como pensávamos. Pelo menos é nesta altura que apenas nos lembramos das coisas boas que aconteceram e ainda bem, as más deixámos enterradas num qualquer dia perdido no meio dos 366 que este ano teve. Nunca fui muito de festejar a passagem de ano, por mais símbolo de esperança de um amanhã melhor que esta data seja, amanhã apenas será um novo dia, o sol nasce de novo e tudo continua. A única coisa que muda no final deste dia é o número que colocamos na data.
A passagem de ano é, normalmente, vista como altura de mudança, de nos propormos a nós próprios novos objectivos, de mudar devida. E muitas vezes estes caem em “saco roto”, como se costuma dizer. Qualquer altura do ano é excelente para fazer estas pequenas mudanças na nossa vida e não apenas agora, se não nos sentimos bem com alguma coisa não vale a pena esperar pelo 1 de Janeiro para a mudar.
2016 significa para mim Gap Year e Universidade, significa Lisboa, Londres, Toronto, Paris, Munique, Praga, Cracóvia, Bratislava e Budapeste. Viagens intermináveis de comboio, avião e autocarro e noites mal dormidas por amor à camisola. Um ano de trabalho e de muita diversão. Um ano de encontros, reencontros e novas amizades. Foi o ano em que eu aprendi tanto sobre mim e vi o mundo mudar à minha volta.
Um ano que começou com trabalho e pessoas com quem partilhei longas, sonolentas e animadas manhãs nos hotéis ou noites intermináveis com clientes que não saíam por nada nas noites que trabalhei nos restaurantes desta cidade que me acolheu tão bem. Muitos destes “companheiros de guerra” tornaram-se amigos que levarei comigo para sempre e que me ensinaram tanto.
Foi o ano em que peguei numa mochila e fui descobrir uma Europa cada vez mais dividida politicamente mas mais unida pelas pessoas que nela habitam. Senti-me em casa em cada canto que visitei pois as pessoas que se cruzaram no meu caminho assim me fizeram sentir. Algumas estavam, também, fora das suas casas, éramos a família uns dos outros durante algumas horas.
Ganhei duas novas famílias também este ano. A entrada na universidade trouxe-me isso. A praxe fez-me criar novos laços dos quais nasceram amizades mas também pequenas famílias. As madrinhas, que levarei comigo para a vida, e aqueles irmãos de praxe chatos e de quem eu gosto tanto foram algo que este ano me trouxe e eu vou levar comigo. Por outro lado, a universidade trouxe-me uma outra família em que cada dia é uma animação e surpresa, uma família que torna a semana de aulas mais alegre quando nos juntamos para ensaiar. 2016 trouxe-me a MTA e espero que qualquer ano que venho demore a levá-la.
Houve pessoas que foram pequenas caixas de surpresa para mim e a quem agradeço imenso as palavras que me disseram nos momentos certos. Algo que nunca me esquecerei é aquela mensagem de esperança que uma pessoa me deu a caminho de um aeroporto do outro lado do mundo, algo como “the grass is greener somewhere else”. E a realidade é essa, há sempre algum lado melhor, apenas temos de procurar o nosso.
Agora que olho para trás e vejo como tudo mudou este ano, percebo que talvez também eu esteja a ser mais uma daquelas pessoas que apenas se lembra das coisas boas que o ano lhe deu. Também eu deixei as más enterradas num qualquer dos 366 dias que tive para viver, também começo a sentir a esperança que talvez o ano que vem seja ainda melhor.
Por isso, a todos aqueles que lêem este Absurdo Sem Fim e que o viram crescer um grande obrigado e que os vossos olhos continuem a cruzar estas linhas que aqui vão aparecendo.
Desejo-vos um Feliz Ano Novo cheio de alegrias, esperança e de tudo aquilo que mais desejarem…
Nos últimos dias tenho ouvido falar imenso de Maria Barros, a aluna que depois de não entrar na faculdade de medicina por 3 décimas decidiu enviar uma carta aberta ao senhor Presidente da República. Li a tal carta, os comentários no facebook a apoiar a rapariga e outros nem tanto, li textos de imensas pessoas a mostrar o seu ponto de vista e até mesmo o bastonário da ordem dos médicos se decidiu pronunciar sobre o tema.
A verdade, é que eu também já fui a Maria Barros. No ano passado, não entrei em medicina dentária por 4 décimas e este ano medicina também não me ficou muito longe, (contudo, já não era o que realmente queria). Sei o que é receber um e-mail a dizer não colocado, sei o quão agridoces são as horas seguintes. Sentir que todo o trabalho que tivemos não foi recompensado e vemos o chão ser-nos arrancado em meros segundos. Ficamos sem saber qual é o próximo passo a dar, pois a revolta interior é tão grande que achamos que o universo conspira contra nós.
Existem certos pontos que para mim eram compreensíveis, como por exemplo, o porquê de não se aumentar o número de vagas. Sei as condições em que alguns dos nossos jovens médicos estão a ser treinados, com vários estagiários para apenas um médico, o caso dos médicos indiferenciados e a má distribuição de profissionais. Aumentar as vagas apenas traria mais caos ao SNS e ao ensino superior do que melhorias.
A diferença entre mim e a Maria é que percebi que não vale a pena desistir. É óbvio, e estaria a mentir se dissesse o contrário, também eu pensei em estudar no estrangeiro. Espanha, Irlanda, República Checa e Canadá foram alguns dos países que me passaram pela cabeça. Mas, nenhum deles era Portugal. Sim, o país podia não me ter dado a oportunidade, mas eu não desisti dele. Tenho a sorte de viver num país onde o ensino superior é "acessível" e de boa qualidade, caso contrário não seríamos reconhecidos lá fora da maneira que somos. Eu decidi parar um ano e tentar melhorar as minhas provas de ingresso, porque se os outros conseguiam ter aquelas notas eu também teria de conseguir e iria lutar para isso.
Na realidade, Maria, não foi Portugal que desistiu de ti. És tu quem está a desistir de Portugal. És tu que não te estás a lembrar que com 18 anos temos uma longa vida pela frente e não dás mais uma oportunidade a ti mesma. Preferes um caminho mais fácil e ir para um sítio onde te reconhecem agora, eu entendo. Contudo, fui ensinado que muitas vezes o caminho mais difícil e trabalhoso é aquele que nos trará mais felicidade e reconhecimento. No meu caso, depois de ter parado um ano percebi que a minha vida já não seria num hospital, já não queria isso para mim. Talvez não entrar fosse um sinal para pensar melhor e é com muito orgulho que hoje digo que sou estudante Relações Internacionais do ISCSP.
Eu não desisti do meu país e tu, Maria, vais desistir à primeira?
Há cerca de um ano atrás, escrevi um texto para a Uniarea intitulado “Um Caloiro Sem Curso”. Foi assim que me auto-intitulei quando recebi a notícia que não tinha entrado na faculdade. Neste momento, já não vos escrevo como “caloiro sem curso”, nem como gapper, infelizmente. Passou um ano. Na realidade, sinto que não foi um ano, foram apenas algumas semanas talvez. O tempo passou tão rápido ou terei sido eu a passar rápido de mais por ele?
Fazer um Gap Year foi das melhores decisões que pude tomar. Mudei-me de uma pequena vila esquecida na beira serra para a grande confusão da capital, deixei os cadernos e as canetas e fui trabalhar. Tomei conta de mim e do meu dinheiro, pois começou a ser o dinheiro que saía do meu esforço. Tive horários loucos, deixei velhos amigos e coleccionei alguns novos. Dancei, saltei, ri, chorei algumas vezes, lidei com situações que nunca pensei que seriam possíveis. Cometi algumas loucuras, viajei, conheci novos sítios, tantas novas pessoas se cruzaram no meu caminho e aprendi tanto com elas.
Decidir parar um ano e ver todos os outros seguir em frente não é uma decisão nada fácil, apenas os mais audazes e corajosos são capazes de a tomar. Muitos chamam-nos de preguiçosos e desleixados contudo, não vêem que na verdade são eles os que não tomaram riscos. Não é um ano apenas de diversão, viajem e sorrisos. É muitas vezes um ano solitário, com algum choro e tristeza. É um ano de aprendizagem no mundo real, algo impossível de aprender em qualquer faculdade. Muitos, eu incluído, chamam-lhe “Faculdade da Vida”, porque é isso que a vida é, um conjunto de aprendizagens. Nunca me ouviram dizer que perdi um ano da minha vida. Na realidade, eu ganhei um ano da minha vida para me conhecer, saber o que quero e perceber como o mundo funciona.
Existem tantas pessoas a quem eu devia agradecer por tudo o que fizeram por mim durante o meu ano de aprendizagem contudo, há uma que merece um agradecimento muito especial. O meu padrinho. Foi a pessoa que de início me apoiou e acolheu em sua casa quando decidi que queria vir para Lisboa. Foi ele que me arranjou o meu primeiro trabalho, que me deu a conhecer esta incrível cidade, que me deu os melhores conselhos durante este ano, me deu na cabeça quando precisava. Foi com ele que cometi algumas loucuras, foi ele que me apresentou pessoas que vou levar para a vida, foi ele que me disse as palavras certas quando eu precisava de as ouvir. Porque, quem tem um Almeida, terá sempre tudo!
Depois de um ano fora de uma sala de aula e de tanto trabalho e viagens, voltar a sentar-me numa mesa e estudar vai ser, decerto, a coisa mais estranha do mundo. Primeira coisa a esclarecer, um gap year altera a nossa maneira de ver o mundo e alquilo que realmente queremos para nós. Apesar de sempre ter querido entrar medicina, e de ter concorrido este ano, por aquilo que achamos queremos não é aquilo que realmente nos fará felizes. Sim, candidatei-me a medicina. Não, não queria entrar porque no meu pensamento eu sabia que já não era aquele miúdo que fez tudo certinho com notas muito boas e que quer ficar num hospital a trabalhar o resto da vida. Percebi que esse miúdo cresceu, cresceu e vê o mundo como algo incrível e cheio de desafios. E, por mais oposto que seja, o rapaz, que um dia sonhou ser médico mas a vida deu-lhe um ano mais para pensar, tornou-se caloiro de Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.
Um gap year não se faz só de trabalho e viagens, nomeu caso também fez parte algum estudo. Nos passados dias 17 e 22 realizei,novamente, exame nacional de Física e Química A e de Biologia e Geologia, respectivamente.Muitos devem-se estar a perguntar o por quê de os ter feito se já os tinha realizado. Achei, já que este ano estava a tentar perceber como funcionava a vida, poderia tentar ter uma nota melhor. E, como tentar não custa nada, lá fui eu mais uma vez sentar-me numa carteira de escola durante duas horas para realizar aquilo que sempre achei ser uma espécie de normalização dos jovens.
Senti-me um completo estranho naquele ambiente. Após um ano sem entrar numa escola e numa sala de aulas, o sentimento é muito diferente. Especialmente, estando eu a realizá-los numa escola onde não conheço ninguém a 300km de casa. A chamada, o preencher o cabeçalho, os avisos e o facto estara realizar aquelas provas fez-me recordar aqueles três anos que vivi no secundário junto de amigos, colegas e professoras. A diferença é que desta vez estava um pouco mais solitário,
Na verdade, sempre fui contra exames nacionais. Acho que, apesar de ser uma das formas mais justas de testar os conhecimentos e colocar todos os alunos no mesmo pé de igualdade para os estudos futuros, não são os conhecimentos que demonstras em duas horas e meia que deviam decidir a tua vida. Basicamente, é isso que acontece no nosso país. São as notas daquele momento de grande tensão e nervosismo, em conjunto com três longos anos detrabalho, que vão ser a tua chave para o futuro, pois é aquela nota que contará para entrar na faculdade e não o que realmente és.
Sempre defendi que o sistema de entrada nas faculdades deveria ser revisto, na medida em que este não é o mais justo com a grande maioria dos estudantes. Existem pequenas diferenças em cada um, devido às suas experiências na vida, que os podem tornar mais aptos para um certo curso do que aqueles que realmente têm média para ele. Em Portugal, não se tem em consideração as “skills” que cada um desenvolve, seja a nível pessoal,social, económico ou de outro tipo. Não se tem em consideração a vocação e as actividades extra-curriculares dos nossos estudantes. No caso de outros países, são muitas vezes estes “pormenores” que colocam os estudantes nas melhores faculdades,como Harvard, Oxford ou Cambridge. Não lhes interessa ter apenas alunos estudiosos, querem alunos que tenham uma vida e que saibam conciliar os seus estudos e uma vida normal. Nesta área continuo a achar que Portugal tem muito aaprender com países como os EUA, o Canadá e o RU.
Daqui a, aproximadamente, um mês estarei a realizara minha candidatura ao ensino superior, pela segunda vez. Desta vez, encontro-me ainda mais desiludido com o nosso sistema de ensino, principalmente depois de ter percebido que na vida o que realmente interessa não é só o “marrar”, mas sim quem “marrou” e é versátil para as situações que lhe aparecem. E no nosso caso, não nos ensinam isso.
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Loís Carvalho, 21 anos, Mundo. Existe um sem fim de sítios onde ir, pessoas por conhecer, vidas para viver, sonhos para alcançar, mundos por descobrir.