29
Set15
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Loís Carvalho
Noite
Abri a janela do meu quarto naquela triste noite. Senti a aragem gelada a percorrer o meu corpo. Como estava bonito o céu naquela noite, pensei. Limpo,, as estrelas brilhavam mais do que o habitual, pelo menos parecia-me que sim. Era uma noite de setembro, o outono já tinha começado e com ele tinham vindo os dias quentes e as noites frias , as folhas decadentes e a tudo o que dantes era uma manto verde começava agora a ganhar pequenos pontos amarelos, vermelhos e castanhos como se trata-se de algo a apodrecer.
Olhei de novo a noite. O cheiro a solidão e melancolia que pairava no ar misturava-se com o de um cigarro acabado e fumar. Ao longe conseguia ver a luz tremula de um fraco candeeiro de rua que nada iluminava, pois nada havia para iluminar naquele lugar.
A única luz acesa em todo bairro era a que passava além de uma pequena janela de um pequeno quarto. Esse era o meu quarto. Tudo o que eu tinha neste momento encontrava-se aí, perdido entre o cheiro a tinta de caneta e o barulho de uma lágrima a cair no chão. Olhei em redor e percebi como tinha crescido. Como tudo me parecia tão diferente e distante agora. Sentia-me um estranho no meio dos meus próprios pertences. Era como se nada daquilo me pertencesse e eu estivesse a viver a vida de um outro alguém.
Quem serei eu?, perguntei-me enquanto observava o ponteiro dos segundos do relógio de parede. Olhava atentamente para todas aquelas recordações, memórias, vidas que vivi mas que nenhuma foi minha.
Quem sou eu?, questionei o meu ser interior enquanto acendia outro cigarro. Voltei de novo à janela, fitei o bairro despido onde morava e, então, fixei o olhar nas estrelas. O que haverá lá fora? Não podemos estar sós..., refletia eu entre um bafo de cigarro e o outro.
A noite estava gelada. Morta, um pouco talvez, mas quem não estava nessa noite?