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Um Absurdo Sem Fim

03
Out16

Praxe

Loís Carvalho

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 Hey Pessoal,

           

       Tal como para milhares de jovens em todo o país, as últimas três semana têm sido uma loucura para mim. Matrículas na faculdade, semana de praxe intensiva, voltar a uma sala de aulas e estudar foram algumas das coisas que marcaram estes últimos tempos. Tal como tinha dito anteriormente, voltar a sentar-me numa sala de aula e ganhar umarotina de estudo tem sido algo que acaba por me obrigar a um esforço redobrado. Não seria de esperar o contrário depois de “gap year” cheio de emoção. Contudo, aquilo que me leva a escrever-vos hoje é algo que nos dias de hoje vejo ser atacado e mal visto por culpa de meia dúzia de pessoas, a praxe.

          Chegamos a esta altura do ano e, desde há uns anos para cá, todos se tornam “experts” nesta matéria. Pouco importa a sua experiência em relação a este “ritual” académico, muitos dos que o comentam nunca passaram por essa experiência sequer. Vista de fora, muitos têm a impressão que apenas se trata de um bando de jovens trajados a gritar com outro bando de jovens, onde esforço físico, cânticos e jogos são uma maneira de “humilhar” os que ocupam os níveis mais baixos da hierarquia. Na realidade, a praxe não é uma forma de humilhação de forma alguma. No meu ponto de vista, a praxe não passa de uma metáfora exagerada do mundo do trabalho. Qualquer um de nós pode ter um chefe que nos faça “olhar para o chão”, mostre a sua superioridade e nos grite as suas ordens, “penalizando-nos” por não as cumprirmos. E ninguém questiona a autoridade desses chefes.

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             Primeira coisa a esclarecer, ninguém é obrigado a ir à praxe. Vai apenas quem quer e se sente bem em lá estar. A qualquer momento, é possível abandonar a praxe, sem qualquer consequência para ela. Ninguém é posto de parte porque não foi ou desistiu da praxe, pelo menos na minha faculdade. Segunda coisa, se houver alguma coisa que não queiras fazer ninguém te vai obrigar. Não tens de fazer nada que não gostes.

         Quem por lá fica, e repito, voluntariamente é sujeito a algo que tornará o seu percurso académico algo ainda mais especial. Sim, é verdade que passei horas a olhar para o chão enquanto alguém gritava connosco. Sim, é verdade que ao fim do quarto dia já havia dores nos braços e feridas nos joelhos de tantas flexões e "granadas”. Durante uma semana acordei às 6:40 da amanhã e cheguei às 20 horas a casa completamente morto e sem voz contudo, com um sentimento de felicidade incrível. Todavia, a praxe não é só gritar e fazer flexões, há actividades solidárias que muitas vezes se realizam. Apesar de ser um cliché sobre as praxes, estas são mesmo uma das melhores maneiras de integração possível. Ao fim do segundo dia já tinha feito amigos que tenho a certeza que me acompanharam nos próximos anos. Os momentos de diversão, brincadeira, risos e parvoíces misturados com os ensinamentos, a entreajuda e respeito tornam a praxe um momento único da vida de qualquer caloiro.

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        Existem dois valores inerentes a este “ritual”, respeito e união. Na praxe aprendemos a dizer obrigado através de um simples jogo, a respeitar os mais velhos e aqueles que estão acima de nós, aprendemos que somos uma família e se um faz asneira todos pagamos. Percebemos que, não só na praxe mas também na vida, não estamos sozinhos no mundo, precisamos da ajuda dos que nos rodeiam, assim como eles precisam da nossa.

A comunicação social tem dado às praxes uma imagem de bicho papão, apenas porque meia dúzia de “gatos pingados” não sabem o que estão a fazer, nem os limites do bom senso. São esses “pseudo-doutores” do nada que difamam a imagem de uma das actividades culturais mais importantes no meio universitário. Muitos dos caloiros, quando se deparam com o que na realidade são as praxes, ficam incrédulos com aquilo que é dito por aí, pois a experiência que têm é tão boa e tão incrível.

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      Não posso deixar de agradecer a todos os doutores, mestres e veteranos que fazem parte da minha praxe. A preocupação que têm connosco, a amizade que demonstram e a dedicação que colocam em cada minuto para nos fazerem crescer como pessoas e como uma família.

Se há um ano que me vou lembrar para sempre, será o ano em que fui caloiro e disso não tenho a menor dúvida.  

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 ( Um agradecimento especial à Doutora inês Colaço Fernandes pela reportagem fotografica da semana de praxe do curso de RI do ISCSP, bem como pela cedência das mesmas para esta publicação)

11
Set16

De Gapper a Caloiro

Loís Carvalho

De gapper a caloiro

 

Hey Pessoal,

           

            Há cerca de um ano atrás, escrevi um texto para a Uniarea intitulado “Um Caloiro Sem Curso”. Foi assim que me auto-intitulei quando recebi a notícia que não tinha entrado na faculdade. Neste momento, já não vos escrevo como “caloiro sem curso”, nem como gapper, infelizmente. Passou um ano. Na realidade, sinto que não foi um ano, foram apenas algumas  semanas talvez. O tempo passou tão rápido ou terei sido eu a passar rápido de mais por ele?

             Fazer um Gap Year foi das melhores decisões que pude tomar. Mudei-me de uma pequena vila esquecida na beira serra para a grande confusão da capital, deixei os cadernos e as canetas e fui trabalhar. Tomei conta de mim e do meu dinheiro, pois começou a ser o dinheiro que saía do meu esforço. Tive horários loucos, deixei velhos amigos e coleccionei alguns novos. Dancei, saltei, ri, chorei algumas vezes, lidei com situações que nunca pensei que seriam possíveis. Cometi algumas loucuras, viajei, conheci novos sítios, tantas novas pessoas se cruzaram no meu caminho e aprendi tanto com elas. 

            Decidir parar um ano e ver todos os outros seguir em frente não é uma decisão nada fácil, apenas os mais audazes e corajosos são capazes de a tomar. Muitos chamam-nos de preguiçosos e desleixados contudo, não vêem que na verdade são eles os que não tomaram riscos. Não é um ano apenas de diversão, viajem e sorrisos. É muitas vezes um ano solitário, com algum choro e tristeza. É um ano de aprendizagem no mundo real, algo impossível de aprender em qualquer faculdade. Muitos, eu incluído, chamam-lhe “Faculdade da Vida”, porque é isso que a vida é, um conjunto de aprendizagens. Nunca me ouviram dizer que perdi um ano da minha vida. Na realidade, eu ganhei um ano da minha vida para me conhecer, saber o que quero e perceber como o mundo funciona.

            Existem tantas pessoas a quem eu devia agradecer por tudo o que fizeram por mim durante o meu ano de aprendizagem contudo, há uma que merece um agradecimento muito especial. O meu padrinho. Foi a pessoa que de início me apoiou e acolheu em sua casa quando decidi que queria vir para Lisboa. Foi ele que me arranjou o meu primeiro trabalho, que me deu a conhecer esta incrível cidade, que me deu os melhores conselhos durante este ano, me deu na cabeça quando precisava. Foi com ele que cometi algumas loucuras, foi ele que me apresentou pessoas que vou levar para a vida, foi ele que me disse as palavras certas quando eu precisava de as ouvir. Porque, quem tem um Almeida, terá sempre tudo!

            Depois de um ano fora de uma sala de aula e de tanto trabalho e viagens, voltar a sentar-me numa mesa e estudar vai ser, decerto, a coisa mais estranha do mundo. Primeira coisa a esclarecer, um gap year altera a nossa maneira de ver o mundo e alquilo que realmente queremos para nós. Apesar de sempre ter querido entrar medicina, e de ter concorrido este ano, por aquilo que achamos queremos não é aquilo que realmente nos fará felizes. Sim, candidatei-me a medicina. Não, não queria entrar porque no meu pensamento eu sabia que já não era aquele miúdo que fez tudo certinho com notas muito boas e que quer ficar num hospital a trabalhar o resto da vida. Percebi que esse miúdo cresceu, cresceu e vê o mundo como algo incrível e cheio de desafios. E, por mais oposto que seja, o rapaz, que um dia sonhou ser médico mas a vida deu-lhe um ano mais para pensar, tornou-se caloiro de Relações Internacionais no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.

 

 

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Loís Carvalho, 21 anos, Mundo. Existe um sem fim de sítios onde ir, pessoas por conhecer, vidas para viver, sonhos para alcançar, mundos por descobrir.

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